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Manuela Menezes: cidadã do mundo

  • Foto do escritor: Tainá Junqueira
    Tainá Junqueira
  • 29 de jul. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 28 de ago. de 2024


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“Eu sou oficialmente uma gaúcha, mas de coração eu sou uma grande mistura”


Na janela do ônibus, Manuela Menezes inclina a cabeça para trás para relembrar o passado e logo para frente para tentar ver o que a espera assim que o ônibus virar a esquina. “O futuro ainda é uma grande dúvida”, começa falando. “Seria um sonho trabalhar com aquelas histórias de pessoas que ninguém liga, que estão perdidas no dia-a-dia”, fala sem pressa, com o r leve e o s sem chiado. O sotaque da Manu não é de lugar nenhum, é mistura, é identidade própria, é dela. Nascida em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, viveu também em Fortaleza, no Ceará, e em Curitiba, no Paraná. Mudanças, adaptações e relação com a saudade são alguns dos desafios vividos nesta peregrinação que, hoje, a ajudam a pensar um novo jornalismo: “Eu acho que ter a vivência de se mudar, é se acostumar a novos mundos, é entender que o mundo é muito plural”.


As experiências que viveu na infância parecem ser os ingredientes ideais para buscar o inédito no mundo comum, observar os detalhes e pensar fora da caixa. “Isso me deu uma visão muito abrangente de que realmente o Brasil é um país continental”, percebe ela hoje. Mesmo sabendo da nossa diversidade e da grandiosidade do Brasil, para Manu é muito diferente viver na prática os contrastes culturais. Usando tênis e não chinelo como todo carioca, mas com roupas coloridas e sem exagerar no palavrão, Manu não é de lugar nenhum, é de todos ao mesmo tempo. “Eu sou oficialmente uma gaúcha, mas de coração eu sou uma grande mistura”, diz a ainda carioca honorária por sempre ter sido apaixonada pelo Rio.


Devido ao trabalho de seu pai, as mudanças de cidades, escolas e amigos eram difíceis na busca por criar raízes e definir uma identidade. “Eu tentava modular o meu sotaque pra conseguir me adaptar melhor e criar amigos mais fácil”, lembra. Apesar das dificuldades, hoje ela vê o lado bom de tantas vivências tanto no lado pessoal de ver quem se formou, quanto para a jornalista que quer se tornar. “Eu não consigo imaginar o que eu seria sem ter morado em outras cidades. Eu acho que isso compõe grande parte da minha identidade, da minha personalidade”. Manu reconhece que o jornalismo brasileiro é muito nichado e se volta apenas ao eixo Rio-São Paulo, e quer propor outros olhares, falando sobre lugares, pessoas e culturas esquecidos pela grande mídia, a partir da visão que adquiriu em suas andanças: “Tem tudo a ver com quem eu sou, de curiosidade, de querer conhecer cada vez mais de tudo”. 


Com 19 anos, ela está no segundo ano de jornalismo na UFRJ e já participa de diversos projetos da faculdade. Recentemente entrou para o projeto de extensão do Telejornal da universidade (TJ UFRJ). Por ele, fez sua primeira cobertura de evento no Festival LED, luz na educação, que aconteceu na Praça Mauá. Apesar de estar pouco tempo no TJ, ela conta que já pôde aprender muito e ainda quer fazer muito mais: “Espero crescer muito, ainda produzir muita coisa, entrevistar muita gente em vários lugares, para realmente já me preparar e pegar esse ritmo do audiovisual que é muito corrido, mas que também é muito engrandecedor”. Para Manu, o audiovisual é um dos caminhos para onde quer ir. Dentro desse mundo, o documentário é uma paixão especial que une a arte e a informação. “Ele empresta muito do cinema e ele não deixa de lado o factual”. 


Nesse sentido, ela acredita que o jornalismo também pode ser arte e o jornalista um artista. Assim como o documentário tem o lado artístico no audiovisual, ela também pensa na arte da escrita. “O livro reportagem justamente liga literatura e jornalismo. Eu realmente vejo o jornalismo com um amplo potencial artístico.” Apesar de castanhos comuns, os olhos de Manu enxergam de forma diferente o jornalismo, ela diz que, com apoio nas artes, sempre irá buscar grandes e importantes pautas que precisam ser faladas. “Eu sinto que tem grandes histórias que estão muito escondidas, sabe? E eu quero jogar uma luz nisso para mais pessoas verem, se importarem”. Para ela o papel do jornalismo é de ser vigilante, falar o que está silenciado, explanar problemas esquecidos. “Tem muita coisa acontecendo por baixo dos panos e que a gente precisa falar mais e tentar mudar, fazer barulho”. Assim, o jornalismo exerce o papel fundamental de garantir que se fale o que deve ser dito, quando tudo parece desmoronar, ele deve ser a sustentação da sociedade. Para Manu “não existe democracia, não existe qualquer sistema político saudável, minimamente, sem jornalismo”.


Acreditando nesse caráter do jornalismo, político e de serviço, Manu teve a ideia de colocar a mão na massa e pautar temas, discussões e reflexões. "Eu precisava começar a publicar mais os meus trabalhos, eu sentia que tinha muita coisa legal que eu produzia na faculdade e ficava muito presa, escondido em algum arquivo do meu computador. Eu queria que mais pessoas lessem aquele conteúdo que estava sendo produzido ali." A ideia de criar a Extra.ordinárias partiu da vontade de compartilhar os trabalhos já feitos, mas também de produzir matérias com um olhar ainda raro: sensível, humano e atento às realidade e às histórias de mulheres extraordinárias. "Algumas das pautas que eu tinha feito, que tinha um viés mais feminista, eram muito legais, mas eu nem sempre via as pessoas produzindo e consumindo esse tipo de conteúdo", explica. "Se eu pudesse compartilhar com mais pessoas esses trabalhos, de mulheres incríveis e inteligentíssimas falando coisas maravilhosas, talvez mais gente passasse a ver as coisas diferentes, ver o mundo um pouco mais como ele é e a entender o que gostariam de mudar nele."

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