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Elas por Elas: Afinal, o que é Drag?

  • Marcela Elis
  • 2 de mai.
  • 6 min de leitura

Em meio a debates sobre o conceito, Drags contam a sua própria definição


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A drag Organzza é a primeira vencedora da “RuPaul’s Drag Race Brasil” (Imagem: Reprodução)


Uma das possíveis origens do termo Drag Queen vem da própria palavra “drag”, que em inglês significa “arrastar”. Essa versão faz menção aos grandes vestidos que drags e transformistas arrastavam pelos ballrooms, salões em Nova York onde a cultura LGBTQIAPN+ brilhava e se fortalecia mesmo em um mundo que os empurrava para baixo. Hoje, a arte Drag é difundida mundialmente, tendo transbordado dos salões nova-iorquinos. 


Em 1990, Madonna lança “Vogue”, hit inspirado na cultura ballroom. Trinta e quatro anos depois, Pabllo Vittar é uma das únicas drag queens a entrar no top 100 da Billboard. Em 1994, estreia nos cinemas o filme “Priscilla, a Rainha do Deserto”, marco da cultura drag nos cinemas. Depois de três décadas, sua versão em musical chega aos teatros brasileiros, estrelado por Reynaldo Gianecchini, que recebeu críticas de conservadores por interpretar a personagem principal. Em 2009, RuPaul, a rainha das queens, lança o reality “RuPaul’s Drag Race”, a competição drag mais assistida no mundo. Atualmente, o programa já tem mais de 16 temporadas e 23 spin-offs gravados em diferentes países. Entre eles, a primeira edição do “RuPaul’s Drag Race Brasil”.


"Quando me transformo em drag, estou revelando um eu oculto, uma versão que talvez não tenha espaço para brilhar no dia a dia" - Sky

Em 2024, a cantora Chapell Roan abre debates para o uso do termo por ser uma mulher cis que se autointitula uma Drag Queen. Com barba ou sem, mais femininas, mais masculinas, com próteses, com curvas, gordas, magras, altas, baixas e até mesmo os Drag Kings. Afinal, o que é Drag? A resposta pode não ser simples, se tratando de uma arte que não só transforma, como transpira, transborda e transpassa a vida de muitas pessoas diariamente. E quem melhor para falar delas do que elas mesmas?



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Organzza posa no sambódramo do Rio de Janeiro e desfila pelas ruas da cidade (Imagem: Reprodução)


ORGANZZA é cria da Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela é a primeira vencedora de “RuPaul’s Drag Race Brasil”. “Sou uma bixa preta do subúrbio carioca, que sempre foi uma criança viada que gostava de dançar e fazer teatro”, conta. Seu nome talvez pareça familiar porque faz referência ao tecido organza, muito utilizado nas fantasias de carnaval. Afinal, é nas rodas de samba e nas quadras das escolas que Vinicius Andrade passa a ser Organzza.


Em 2023, sua vitória na primeira edição brasileira de “RuPaul’s Drag Race” leva sua carreira a outro patamar. A drag que anteriormente já participava de concursos no Rio de Janeiro ganha visibilidade mundial e leva consigo suas origens cariocas. Para ela, sua arte ganha uma nova configuração: “Drag hoje é a junção de todas as minhas expressões artísticas em um só lugar; drag representa conseguir viajar o Brasil e o mundo com a minha arte”.


Muito longe de caixinhas, Organzza acredita que as mudanças no cenário drag trazem um mundo de possibilidades. A verdadeira essência permanece na forma de expressão artística. No entanto, ela ainda acha necessário dar ênfase para o papel da arte e da performance no processo de criação da Drag. “Não acredito que exista uma maneira certa de definir o que é drag, mas que precise existir sim uma prática de montação que vá transformar a expressão habitual da pessoa para uma expressão artística em drag”, opina.


A queen fará uma performance especial no dia 3 de maio, inspirada na apresentação de Lady Gaga em Copacabana. A drag diz ser uma “little monster de carteirinha” e será uma das atrações do “After Mayhem on the Beach”, em uma casa de festas no centro do Rio. 



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Layla Riker montada da cabeça aos pés (Imagem: Reprodução)


LAYLA RIKER talvez seja sua próxima torcida no “RuPaul’s Drag Race Brasil". Vinda de São Gonçalo, seu interesse em participar da próxima edição foi o que a motivou a viver 100% de sua drag. Formada em administração, ela era dona de um restaurante até maio de 2024, quando decidiu que suas funções administrativas seriam utilizadas na venda de perucas, roupas e até maquiagens para outras drags. “Minha vocação sempre foi artística.” 


Muito além de arte, Layla, além de uma persona, é também a responsável por salvar Thiogo Andrade, de 35 anos. “A drag foi o que salvou minha vida, me tirou de uma depressão. E eu sou muito grato. A arte drag salva vidas, é real”, compartilha. Quinze anos atrás, ele passava por um término e uma traição de sua primeira paixão. O período devastador foi tomado pela alegria da drag que, segundo ele, era a moda da época nas baladas de São Gonçalo.


Layla relembra sua primeira montação: “É aquela coisa: você pega a peruca de um, sapato e vestido de outro, um te maquia”. Criado como Testemunha de Jeová, Thiogo não cresceu tendo contato com a cultura das drags e dos ballrooms.  


Depois disso, o gosto pela arte veio. Layla começou a participar dos concursos do Turma OK, o bar LGBTQIAPN+ mais antigo em atividade no Brasil. Entre esse e outros bares, ela já ganhou mais de 25 concursos tanto de beleza, quanto de dublagem. E então, o hobby “drag” vira o trabalho “drag”. 


“É um momento de empoderamento, de reflexão, de militância, de contemplação de arte e cultura.” Layla ainda complementa: “Drag para mim também é política, eu consigo me posicionar quando faço um show de arte drag. Eu consigo mostrar a importância de ter uma drag negra ocupando um ponto de destaque”.



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Sky escolheu seu nome em homenagem a uma amiga (Imagem: Reprodução)


SKY, A SUPER DRAG é mais uma das figurinhas no álbum do Turma OK. Drag há mais de 25 anos, ela se montou pela primeira vez em 1999 para um baile de carnaval em Niterói. Na ocasião, ainda não tinha nome - mais tarde, ela se chamaria Simone Sky em homenagem a uma amiga. Hoje, é apenas Sky. Ou melhor, Sky, a super Drag.


Ela conta que a arte drag surgiu por ter sido uma criança apaixonada por fantasia. Sempre gostou muito de Barbie e se inspirava nos trajes dela para a montagem. Com o tempo, passou a se interessar pelo estilo punk, mas a essência de Sky permanece a mesma: ser o diferencial em vários ambientes. “Sempre estive em festas em que não era comum ter uma Drag, não queria estar em um ambiente óbvio. Eventos empresariais, festas de casamento, despedidas de solteiro, chá de bebê, até chegar em um momento de estar na boate”, conta Sky.


Para Leandro Rangel, crescer como um garoto gay foi muito tranquilo e natural. Era aquele assunto no qual a família só não toca. No entanto, a arte drag teve um papel especial no seu relacionamento com a sua mãe. Leandro conta que a mãe o ajudava nas montagens de quase todas as apresentações, sem questionar muito. Uma unha feita aqui, uma barba cortada ali, e Sky aos poucos era construída por mãe e filho. 


Dois anos atrás a mãe de Sky fez um pedido inusitado: “Ela pediu para assistir à minha próxima apresentação. Ela disse: ‘Eu quero falar para todo mundo que eu sou a mãe da Sky’”. No concurso “Miss Rio de Janeiro Gay” de 2022, Sky precisava representar a escola de samba “São Clemente” e seu enredo daquele ano - uma homenagem ao ator e comediante Paulo Gustavo. Numa junção simbólica, Sky e sua mãe desfilaram lado a lado representando uma das matriarcas mais queridas do Brasil: Dona Hermínia.



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Sky e sua mãe de Dona Hermínia para o Carnaval do Rio (Imagem: Reprodução)


Para Sky, além de promover a aceitação, a arte drag desempenha um papel crucial no amor-próprio. Assim como em sua história, a drag permite um diálogo sobre gêneros, sexualidade e normas sociais. Traz voz aos marginalizados. “A arte drag é uma celebração da individualidade e da criatividade, mostrando que todos têm o direito de se expressar livremente”, conta Sky.


No ambiente criativo, ela afirma que ser drag é uma forma poderosa de expressão e liberdade. É o que a permite explorar diferentes facetas de sua identidade - de formas que nunca imaginou -, brincar com a estética e desafiar estereótipos. “Quando me transformo em drag, estou revelando um eu oculto, uma versão de mim mesmo que talvez não tenha espaço para brilhar no dia a dia.” Ela completa, dizendo que essa arte traz à tona aspectos de sua personalidade “que estavam adormecidos”. 





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